7 de dezembro de 2010

Terrorista da Informação

Que a divulgação de informações e documentos sigilosos dos EUA feitos pelo Wikileaks nos últimos dias tem deixado a diplomacia norte-americana na defensiva não parece ser novidade para ninguém. Porém, a reação da ala conservadora em relação aos recentes acontecimentos é curiosa em pelo menos dois fatores; o primeiro remete a figura do fundador do website e a tentativa de vincular sua imagem a um hacker criminoso que deveria ser processado e preso, além do fato de ainda responder por um crime sexual; o segundo é o profundo ódio por Assange (fundador do Wikileaks) gerado pelos conservadores chegando ao ponto de desejarem sua morte ou algo similar. A ironia é que Assange é australiano e quase nada pode ser feito contra ele pelo governo dos EUA.
O vídeo abaixo é uma compilação de declarações sobre Assange feitas por O´Reilly e outros (o vídeo foi editado toscamente mas dá para se ter uma idéia).


Outro ponto relevante é a tentativa de rotular Assange como um terrorista da informação que passa dados sigilosos para o conhecimento público. Ora, se passar informações desconhecidas para o público é um ato terrorista, a grande parte dos jornalistas deveria ser mandada para Guantánamo, na visão dos conservadores. Para estes, a liberdade da informação parece não existir quando o assunto é segurança nacional e terrorismo, e qualquer ação deve ser tomada para evitar alimentar os terroristas com informações classificadas, vide o ato patriota no governo Bush.
Segue o video do “Young Turks” onde a liberdade nos EUA é confrontada com os recentes vazamentos.

Conservadores X Soccer

Neste ano, a Copa do Mundo de futebol realizada na África do Sul despertou na ala conservadora norte-america um sentimento profundo de desprezo ao esporte e o “soccer fever” vivido naquele período. Glenn Beck, famoso comentarista da Fox News chegou ao ponto de comparar o futebol com as políticas reformistas de Obama.Veja vídeo abaixo.

“O mundo gosta das políticas de Barack Obama e o mundo gosta da Copa do Mundo, mas nós não”. É com esse pensamento direto ao ponto que os conservadores frisam uma barreira, um “frame” que polariza a verdadeira cultura americana, principalmente no âmbito esportivo com a cultura vivida pelo restante da população mundial. Deste jeito, Beck faz um contra ponto entre os tradicionais esportes norte-americanos como o baseball e o futebol americano, praticados há décadas pela grande maioria da população, e o “soccer”, praticado em sua grande maioria pelas mulheres, crianças e filhos de imigrantes. O debate foi tão levado para o âmbito político no momento que o analista conservador Dan Gainor, afirmou que a esquerda estava obrigando as escolas a darem aulas de “soccer” pois a America está de “amarronzando”.

Abaixo segue o vídeo “Top Ten” do programa de David Letterman dizendo os motivos porque os norte-americanos não gostam de futebol. É uma crítica bem humorada em cima dos tradicionais esportes norte-americanos e à visão de que o futebol é um esporte de estrangeiros.

6 de dezembro de 2010

Noam Chomsky: rational = boring

Pesquisando um pouco sobre Noam Chomsky, cheguei até este site, onde encontrei diversos quadrinhos satirizando a figura de Chomsky. Veja uma amostra (clique nas imagens para ampliar):



Borat - they dind´t get the joke

Vejam a notícia que o site da BBC Brasil veiculou há poucos dias:


Cineasta cazaque dirige sequência de Borat



Borat - o filme original conta a história de um suposto repórter do país
Um diretor de cinema do Cazaquistão filmou a continuação da famosa comédia e pseudodocumentário Borat, do britânico Sacha Baron Cohen.

A proposta do novo filme é ser uma comédia de humor negro que melhore a imagem do país, ridicularizado no filme original.

Quando foi lançado, em 2006, o filme de Cohen - que conta a história de um jornalista grosseirão que viaja do país aos Estados Unidos e sai em busca da atriz Pamela Anderson - causou ultraje no Cazaquistão e acabou sendo proibido em solo cazaque. O governo do país, inclusive, ameaçou processar Cohen por causa do filme.

O diretor do novo filme, Erkin Rakishev, diz não ter visto o lado engraçado da produção original e alegou que decidiu filmar uma continuação para corrigir a imagem do país criada pelo personagem de Cohen.

"Todo cazaque que vai ao Ocidente sente desconforto ao dizer de onde vem porque os ocidentais associam o país ao filme Borat ", disse Rakishev à BBC.


Cidade Moderna

Rakishev não viu graça no filme original
A sequência do original, Borat, My Brother (ainda sem título em português), conta a história de um jornalista americano chamado John que, após assistir ao primeiro filme Borat, decide visitar o Cazaquistão.

Ele sai à procura do vilarejo fictício de Kusek, onde o personagem Borat teria nascido, mas encontra uma cidade moderna e desenvolvida.

"No filme, John se lembra de que Borat havia mencionado seu irmão Bilo, que tem um problema mental. Ele encontra Bilo em um hospital psiquiátrico ao lado de Osama Bin Laden e George Bush, e é assim que o filme começa", disse o diretor. Bilo leva John em uma viagem por seu país para mostrar a ele o verdadeiro Cazaquistão.

Para o diretor, Borat realmente ofendeu sua nação. "Acho que (o filme) passou do limite. Talvez eles só quisessem fazer uma piada, mas nos diminuíram, nos insultaram, nos misturaram com sujeira, nos compararam a animais, nos representaram como um povo bárbaro e selvagem."

"Você diz que todos entendem que foi uma piada, mas não concordo, porque a maioria das pessoas acredita no que vê e ouve", alegou o diretor.

Polêmicas

 
Mas o filme de Rakishev também inclui algumas cenas polêmicas. Em uma delas, Bilo é estuprado por um jumento e, em outra, uma mulher idosa é vista batendo nos dois personagens principais com uma vareta. Rakishev nega que essas cenas possam ofender algumas pessoas, afirmando que "se o irmão de Borat tivesse estuprado o jumento, talvez isso pudesse ser considerado ultrajante, mas é o oposto".
O diretor diz que as piadas do filme podem ser pesadas, mas não ofensivas, e que leva em conta as opiniões do público ocidental. "Queremos que o público ocidental assista (ao filme) e tenha uma melhor compreensão de como é o Cazaquistão na realidade", disse ele.
Após o sucesso do primeiro Borat, que arrecadou quase US$ 240 milhões em bilheterias, Rakishev acredita que sua sequência também vai ser um grande sucesso quando for lançada, no ano que vem. "Nos últimos três anos, fiz seis filmes no Cazaquistão e posso lhe dizer que meus filmes são populares, viram sucessos imediatos."

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O que dizer de toda a polêmica levantada com o filme original? Well, they simply didn´t get the joke... Borat não retrata como é o Cazaquistão, mas como o povo do oriente médio é visto pelos americanos: um bando de bárbaros, sujos, imorais e terroristas (vide o conselho que Borat recebe no rodeio na Califórnia, para tirar seu bigode e se distinguir dos terroristas).

Com um humor ao mesmo tempo escrachado e ingênuo, o personagem de Sacha consegue arrancar das pessoas suas características menos louváveis. "Sem querer", Borat descortina as 'barbaridades' não do Cazaquistão, mas dos Estados Unidos. Isto porque, como vimos anteriormente, é justamente em situações "impensadas" que deixamos transparecer nossos frames. E é através de situações provocativas que vemos no filmes muitas metáforas do povo americano.

Não me estenderei listando tudo o que pude encontrar no filme, porque creio que isto foi feito em aula. Em todo caso, vou citar duas passagens do filme que mais me chamaram a atenção:

- Qual a melhor arma para matar um judeu? Diante desta pergunta, o vendedor de armas sulista nem sequer titubeia. Oferece uma bela de uma arma sem nem se surpreender com a pergunta... Até tenho medo de pensar em uma metáfora.

- A distância Nova Iorquina: a metáfora 'perto=bom' não se aplica em Nova Iorque, muito menos após o 11/09. Neste contexto 'paranóico', 'perto=perigo'.


 

Three Thousand Miles

 

Sei que não entramos a fundo neste tema durante as aulas, por isso acho que vale a pena assistir esse update (20 minutos) bem interessante sobre a questão da fronteira EUA-México. 
É um vídeo relativamente recente e trata sobre os diversos problemas enfrentados pelos países, como a questão da imigração e o tráfico de drogas na extremidade de seus territórios. 
Neste mini-documentário são citados os programas e esforços desenvolvidos entre os dois países para reduzir a violência nesta longa faixa de terra. Vale a pena conferir.



Podemos em seguida, abrir uma discussão através dos coments, o que acham?


Grande abraço a todos e boas férias!

Fernando Rodrigues

O Brasil na Wikileaks – Quem cresce, aparece.



Sobrou pra gente na Wikileaks também. E olha que nos últimos anos, dentro dos milhares de documentos já divulgados, não são poucos os documentos secretos que tratam sobre o Brasil.

Os principais temas são econômicos, como o comércio bilateral e a tarifa do etanol, e políticos, principalmente sobre ascensão de nosso país no cenário internacional. 
Documentos da década de 90 já apontavam Brasil e Argentina como países dominantes na América do Sul. Porém, em textos mais recentes, o Brasil já aparece como "única potência" da América Latina e "líder entre países em desenvolvimento".

Esses documentos são indicadores muito interessantes, pois permitem uma análise sobre a percepção externa de nosso país, que passa por um período de notoriedade bastante particular e positivo. Mais interessante ainda é saber que causamos preocupação.
Hoje venho falar sobre outro tema que vazou: a percepção de um político americano sobre a Amazônia. 
Documentos secretos do ex-embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel classificam como “paranóica” a política ambiental e de segurança do Brasil na Amazônia. 

Em duas correspondências diplomáticas datadas de 2009 e divulgadas na última quarta-feira (01/12), o diplomata afirma que a estratégia brasileira "cai na tradicional paranóia do Brasil a respeito das atividades das ONGs e outras forças estrangeiras que são percebidas como ameaças potenciais para a soberania do Brasil" Sem comentários... (Lembrei daquela música dos Titãs, Aluga-se:
 
Os estrangeiros
Eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico
Tem vista pro mar
A Amazônia
É o jardim do quintal
E o dólar deles
Paga o nosso mingau...
)

O embaixador recomenda, no entanto, que os EUA ajudem a potencializar a capacidade militar do Brasil como via para "apoiar os interesses dos EUA" na região.
Dois meses depois dessas correspondências diplomáticas, o ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, lembraria após um encontro com o Chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, Mike Mullen, que "não há tutela possível sobre a Amazônia que não seja a brasileira".  Toma.
Mas para Sobel, os Estados Unidos poderiam se beneficiar dessa "paranóia" do Brasil sobre a possibilidade de perder o controle de suas fronteiras. Como segue a frase a seguir:
"A preocupação política sobre as imaginadas ameaças à soberania na Amazônia, no entanto, pode servir para o objetivo prático de impor aos militares uma maior capacidade para projetar seu poder à região, que é a mais vulnerável à instabilidade dos países vizinhos".
Quanto maquiavelismo...

Pra quem não sabe o que é nem como funciona o Wikileaks

Fernando Rodrigues

O novo imigrante

Pela primeira vez o número de imigrantes ilegais ultrapassou o número de imigrantes legais nos Estados Unidos. Esse dado abrevia a reflexão acerca do novo papel que os imigrantes têm na sociedade norte-americana. A imigração nos EUA, que antes no imaginário popular estava envolta de mitos que chegavam a ser pueris, se cercará de medos e incertezas.

http://http://www.youtube.com/watch?v=ePb-XqQazfM

A imigração teve um papel fundamental na construção dos Estados Unidos. É por meio da figura do imigrante, aquele que vai buscar em uma nova terra progresso e pertencimento (já que foi a intolerância religiosa que trouxe os colonos para os Estados Unidos), que a nação americana irá se formar. E muito dos frames mais conhecidos partirão da figura do imigrante.

Os Estados Unidos, durante décadas esteve entre os países que mais receberam imigrantes. Mas nos anos 2000, especificamente a partir de 11 de Setembro os estrangeiros personificarão o frame de Terror; primeiro, por meio da figura do individuo do Oriente Médio, depois por meio da figura do estrangeiro. Será contra eles que muitos cidadãos norte-americanos e seus representantes se voltarão contra a fim de aliviar as tensões que os ataques trouxeram.

A criminalização da migração nos EUA criou uma massa de fora-da-lei, e se reflete na cotidianidade dos imigrantes. Imigrar tornou-se uma questão de segurança nacional, onde os imigrantes ilegais se tornarão criminosos, passiveis de punições graves. Isso setornou tão real que os imigrantes ilegais deixarão de reportar a polícia local crimes que ocorrem contra eles, com medo de deportação. Essa tensão pode aumentar a violência dentro das comunidade imigrantes pois o medo de deportação pode dar a alguns individuos um passe livre para coagir ou agredir imigrantes ilegais.

Imigração se tornará um frame para insegurança nacional, pois todos aqueles que não compartilham a maior parte das práticas sociais norte-americana personificarão um novo frame, o de desconhecido, o de indesejado. A nova lei de imigração do Arizona explicita bem como esse novo frame foi incorporado por muitos grupos da sociedade norte-americana.

Surpreendentemente o governo Obama que criticou a nova lei, visando seus eleitores latinos, continuará com as políticas migratórias do governo antecessor. Diversas ações em fazendas e fábricas foram realizadas ao longo do ano a fim de punir empregadores que tivessem entre seus funcionários imigrantes ilegais. Isso nos indica que esse é de fato o novo papel do imigrante na sociedade norte-americana.


A Mãe Profissional

Nos últimos anos vimos o destaque crescente de figuras femininas no cenário político-diplomático como Cristina Kirchiner, Michele Barchelet, Angela Merkel, Condoleezza Rice, Dilma Roussef , Indira Gandhi e Hilary Clinton, sem motivos para deixar de citar Marta Suplicy, Princesa Diana até mesmo nossa querida Sarah Palin.

O frame da mulher moderna, forte, capaz de ao mesmo tempo cuidar de uma família e trabalhar, e não apenas trabalhar, mas assumir cargos com responsabilidades antes vistas como masculinas, como é o caso da política e da diplomacia, vem tomando conta de todas as rodinhas de discussão política há algum tempo.

Vejamos o caso de Dilma Roussef, recém eleita para presidência do Brasil, se tornando a primeira mulher a comandar a maior economia latina. Dilma, além de se preocupar em construir um discurso sólido, como todo político deseja, tentando demonstrar força e competência em todos os debates e entrevistas concedidas, se preocupava em enfatizar não que é apenas uma mulher, mas que uma mulher que preserva a família e valoriza o futuro das próximas gerações, como podemos observar no trecho a seguir do debate da RedeTV!, em 17/10/2010:

Em suas considerações finais, Dilma recorre ao frame da mulher-mãe, que cuida de toda uma família. Ao dizer que está muito feliz pelo nascimento de seu neto e quer dar ao Brasil o futuro que quer dar a ele, transplanta essa idéia maternal da mulher em relação ao país. Independentemente da competência ou não de Dilma e seus méritos (ou não) para vencer as eleições, o frame da mulher e mãe (no caso, já avó) se encaixa muito bem no discurso, pois isso traz a idéia de uma pessoa que se preocupa com o país como se preocupa com sua própria família.

Isso pode ser incrivelmente subjetivo, mas é ao mesmo tempo incrivelmente influenciador. Uma mulher, com características de sensibilidade, de mãe, somadas as de um político, constituem uma personalidade capaz de prover cuidados básicos como um sistema de saúde consideravelmente eficiente (uma mãe cuida da saúde de seus filhos) e claro, como política, capaz de comandar a maior economia da América Latina.

Se por um lado, Dilma conseguiu mobilizar o frame da mulher moderna ao seu favor, Sarah Palin vem tendo algumas dificuldades... É inquestionável que Sarah tem competências para assumir cargos importantes, afinal de contas foi governadora do Alaska e concorreu a vice-presidência dos Estados Unidos. Algum mérito deve existir. Sarah é uma das que mais recorrem ao frame mulher/mãe. Em seus discursos é comum a presença de sua família, com destaque para sua competência na “gestão” de todos os seus filhos e marido.

Só que recorrer a esse frame se tornou, a meu ver, um ato um tanto quanto desesperado de Sarah. Todos os seus discursos se baseavam nisso. E talvez por isso, grande parte da opinião pública passou a questionar sua capacidade política e sátiras se tornaram recorrentes.

Trazendo um pouquinho de humor ao post, assistam ao vídeo do site Barely Political, especializado em sátiras políticas, às vezes até que um pouco apelativas.



Sarah definitivamente não conseguiu converter este frame em votos e conquistar a confiança da população em seu papel de candidata à mãe do Estado norte-americano.

Seria bem interessante se conseguíssemos analisar o discurso de todas as mulheres e notarmos quais se utilizam deste frame para arrecadar mais votos e porque não, exercer o trabalho que antes era visto como masculino. Esta é a mãe profissional, mil e uma utilidades.


Carolina Nascimento

O segredo para ser um um anti-sionista respeitado

Quer ser um anti-sionista respeitado? Seja judeu!
Antes de explicar minha provocação, me sinto na obrigação instintiva de não esperar sequer um segundo para que estranhamentos irrompam: percebam que não se trata de anti-SEMITISMO, mas sim de anti-SIONISMO. Perdão pelo esclarecimento tolo, mas é que para ser mal interpretado nesta questão, um piscar de olhos basta.

Pois bem, voltando à questão...
Tenho lido recentemente dois acadêmicos interessantíssimos; um muito famoso: Noam Chomsky, e o outro, em vias de se tornar um -quem sabe, daqui uns anos: Norman Finkelstein.
As semelhanças entre eles? Bom, ambos já foram impedidos de entrar em Israel, sendo deportados por funcionários da imigração sob alegação de "opiniões anti-sionistas". Ambos são estadunidenses, muito respeitados no meio acadêmico e autores de diversos livros. Ambos manifestam-se por meio de discurssos, entrevistas, ensaios ou livros, a favor de uma leitura crítica com relação ao Estado de Israel e produzem críticas severas ao modus operandi do projeto sionista.
E ah!! Claro, ambos são judeus!

Recomendo "Rumo a uma nova guerra fria", de Chomsky e " A indústria do Holocausto", de Finkelstein.
O que mais me chama atenção nestes autores é justamente o fato de que, suas críticas tem - em certa medida - "carta branca", pelo fato de serem judeus. Não fossem, o rótulo de anti-semitas seria automaticamente conferido a ambos.
Em A Indústria do Holocausto, Norman Finkelstein, mostra como o holocausto foi transformado num mito que serve aos interesses da elite judaica. O livro é uma denuncia da exploração política, ideológica e financeira do Holocausto pelas grandes organizações judaicas internacionais. Não é difícil imaginar a polêmica que surgiu sobre a obra!
Finkelstein é filho de judeus egressos do Gueto de Varsóvia e sobreviventes do Campo de Concentração de Maidanek e de Auschwitz.


Segundo suas próprias palavras ".... as atrocidades nazistas transformaram-se num mito que serve aos interesses judeus, sendo que nesse sentido, o holocausto transformou-se em Holocausto (com h maiúsculo) ou seja, numa indústria que exibe como vítimas o grupo étnico mais bem sucedido dos Estados Unidos e apresenta como indefeso um país como Israel, uma das maiores potências militares do mundo, que oprime os goiyns (os que não são judeus) em seu território e em áreas de sua influência".

Nesse seu último livro, Norman Finkelstein mostra que o extermínio de judeus durante a Segunda Guerra foi transformado em "uma representação ideológica que defende interesses de classe e sustenta certas políticas."
Para as diversas organizações judaicas no mundo, e a para a direita israelense, então no poder, a melhor forma de atrair simpatia era vender a idéia de que a hostilidade palestina poderia levar a uma reedição da "Solução Final".
Israelenses e judeus são hoje a grande força de opressão, perseguindo os palestinos em sua terra natal, e os negros que, em vários momentos foram seus aliados, mas que agora não mais lhes interessam.
Segundo palavras do professor francês Jacques Rancière a intenção do autor é mostrar que "... o Holocausto se transforma assim, numa cobertura para Israel perpetuar a espoliação dos palestinos, enquanto os Estados Unidos podem esquecer os massacres e as injustiças que marcaram a sua história."

Já na obra de Chomsky a que me referi, seu ponto de vista sobre a política externa americana, em especial, no que se refere ao conflito Israel-Palestina, é um corajoso manifesto.



Entre muitos artigos e livros sobre este tema, sua obra The Fateful Triangle é considerado um dos principais textos que se opõem ao tratamento que Israel dá aos palestinos e o apoio que os Estados Unidos dão aos governos israelenses. Segundo ele, Israel representou uma "liderança do terrorismo de estado" na época em que realizava a venda de armamentos para a África do Sul - nos tempos do apartheid - e para países da América Latina governados por governos-títeres dos americanos.

Suas constantes condenações ao incondicional apoio militar, financeiro e diplomático que os Estados Unidos dão aos governos israelenses já fizeram muita gente perder a paciência. Em meio a discussões desencontradas e muitas vezes manipuladas sobre a questão na Palestina, ter acesso a críticas de autores judeus é, sem dúvida, muito interessante.

Polêmicas à parte, os dois livros são ótimos, e os argumentos, embasados.


obs: O "rumo a uma nova guerra fria" do Chomsky está sendo vendido na banca de jornal em frente ao Conj.Nacional, na Paulista, por R$14,90, novo, lacrado! Recomendo.



Por muitos anos, o estilo de vida norte-americano, sua economia, políticas sociais, governo e etc., foram tidos como modelos ideais, admirados e copiados por muitos países. Entretanto, o mundo vem, cada vez mais, criticando e analisando o sistema dos Estados Unidos e a qualidade de vida dos americanos.
A admirada e, até então, estável economia norte-americana sofrera recentemente uma grave crise que prejudicou o bem estar de sua população e questionou suas políticas públicas. Nas últimas décadas, o governo e a população dos Estados Unidos, vêm sendo alvo de denúncias de estudos e análises sobre a fragilidade de seu sistema e a manipulação e crimes cometidos pelos órgãos estatais e o próprio governo contra a população e os direitos humanos e em favor da indústria, de órgãos privados, da economia de mercado, do desenvolvimento maciço da economia do Estado e etc.. A educação dos Estados Unidos, por exemplo, é freqüentemente criticada, pois os norte-americanos, apesar de serem o principal centro de pesquisas e desenvolvimento, sofrem com uma precariedade do ensino e são, muitas vezes, alienados frente aos principais acontecimentos nacionais e mundiais e são tidos como ignorantes em relação às ciências consideradas essenciais no nível da educação.
O americano Michael Moore que é um dos principais críticos da política, economia e cultura norte-americana, produziu e escreveu uma série de filmes e documentários que trazem à tona realidades obscuras de seu país e que são freqüentemente “mascaradas” pelo Estado e órgãos de interesse. Em um de seus polêmicos documentários, Michael analisa o sistema de saúde dos Estados Unidos que, diferentemente do Brasil, Cuba e Canadá, por exemplo, não possui um sistema universal.
Os dados apresentados no longa-metragem assustaram a população mundial, principalmente àqueles que desfrutam de um apoio governamental, mesmo que deficiente, e é assistido, ao menos legislativamente, em suas necessidades básicas. O sistema de saúde dos Estados Unidos é unicamente privado, entretanto, por volta de 50 milhões de norte-americanos não possui plano de saúde e os outros 250 que têm condições de pagar um, desfrutam de um serviço extremamente precário e deficitário. Infelizmente, devido ao descaso governamental e das empresas privadas, cerca de 18 mil pessoas vão morrer por ano por que não possuem plano de saúde e nem uma assistência pública.
Infelizmente, a indústria farmacêutica, as empresas privadas de planos de saúde, dentre outros beneficiários do atual sistema de saúde, estão diretamente ligados ao Congresso, ao governo e às políticas públicas que são implementadas ou deveriam ser. Hilary Clinton, quando ainda era primeira dama, tentou universalizar o sistema americano, porém não teve êxito. Os órgãos privados de interesse investiram mais de $140 milhões para a promoção dos planos de saúde e no marketing negativo da proposta da Hilary. Aproveitando do medo que os norte-americanos têm do socialismo e tudo que o envolve, o projeto de sistema universal de saúde foi associado ao mesmo. Assim, a população rejeitou a mudança, o que deu margem para políticos corruptos não apoiarem a proposta no Congresso e, juntamente com as instituições privadas de interesse, se beneficiarem em detrimento da população.
Infelizmente, aparentemente, é vantajosa uma população pobre, doente e com baixa auto-estima, pois, além de mais facilmente manipulável, favorece a indústria e o mercado que, hoje, dominam a política dos Estados, inclusive as políticas sociais. Atualmente, essas políticas representam possibilidades de grandes negócios, fato que contraria o sentido do serviço governamental que teoricamente significa uma política não-capitalista de suporte à população a fim de suprir suas necessidades básicas segundo os direitos humanos e a legislação internacional sobre o bem estar social.
Entretanto, ao menos no caso do sistema de saúde, é possível unir uma política social justa e vantajosa para o governo. Financeiramente, a longo prazo, é financeiramente favorável, pois o custo do trato de doenças é muito maior do que os investimentos em uma boa profilaxia, como Michael Moore exemplifica através dos sistemas de saúde francês, canadense, cubano e inglês. Além do mais, uma população saudável, feliz e satisfeita, apesar de aparentemente dificultarem os planos governamentais, une a nação e apóia o governo.
É natural que a população exija mais serviços públicos de direito, como os Correios, polícia, bombeiros e etc.. E é natural que muitos dos serviços privados da atualidade se tornem públicos, principalmente por que muitos países já são exemplos e cada vez mais desenvolvem seus serviços públicos. É uma luta pelo acesso à riqueza social e à justa distribuição dos impostos. Porém, é provável que o primeiro passo para um sistema eficiente e assistente é desvincular o governo das indústria, das empresas, das grandes corporações e dos órgãos privados que se beneficiam da política causando prejuízo a população.



Uirá Rocha

Homosexualismo no U.S. army



No discurso de Barack Obama visto acima, ele demonstra seu desejo de banir a política do “Don´t ask, don´t tell” que proíbe membros do exército americano a se assumam homossexuais. Sendo ele um exímio orador, ao agradecer aqueles que o criticam afirmando que o progresso não esta vindo rápido o suficiente Obama esta ,na verdade levando seus críticos a o apoiar no banimento da política do ”Don´t ask don´t tell” já que ele consegue linkar progresso ao banimento dessa lei. Essa política vem sendo muito debatida por todo o país por ser muito delicada. Inúmeros ex-militares que foram expulsos por se assumirem gays fazem campanha pelo fim dessa política e inclusive tem aparecido em programas de TV para falar sobre o assunto como é o caso da soldada condecorada Stacy Vasques, que foi mandada embora do exército após ser vista beijando outra garota em um bar homossexual. Enquanto Obama e grande parte da população luta pelo fim da política, dentro do exército ainda há uma certa resistência, principalmente entre os fuzileiros onde, segundo uma nova pesquisa feita nesse sentido, a rejeição ao banimento da lei seria de 60%. Segundo o general aposentado Herb Temple isso acontece porque grande parte dos fuzileiros não é de Palm Spring ou Los Angeles, ou de qualquer área onde as pessoas se misturem com gays. Porém a pesquisa demonstrou também que, apesar da rejeição entre os fuzileiros, há um risco muito pequeno em permitir que gays sirvam abertamente, e os problemas seriam apenas no curto prazo e pontuais, segundo a mesma pesquisa, 2/3 dos membros do exército entrevistados simplesmente não se importariam em servir ao lado de homossexuais assumidos.



Segundo o secretário de defesa americano Robert Gates o banimento da lei Don´t ask, Don´t tell “Pode ser feito e deve ser feito” sem prejudicar a prontidão dos tropas e ele também defende que a rejeição a homossexuais por parte do exército se da por que parte das tropas não esta familiarizada com a convivência com homossexuais mas sim com esteriótipos pejorativos aos homossexuais. Apesar da pesquisa e da vontade política de Barack Obama em banir a lei Don´t ask don´t tell os membros republicanos do congresso continuam sendo um entrave ao banimento dessa lei preconceituosa que faz com que membros homosexuais do exercito vivam em constante temor de denuncias e muitas vezes são impedidos de defender seu país simplesmente por sua opção sexual. O debate é digno de uma país em mudança onde o homossexualismo é comum nas grandes cidades, mas ainda visto com estranheza em grande parte do país.

Uirá Rocha

5 de dezembro de 2010

Cablegate. Open Government e Internet x Liberdade - Parte III

Agora que temos todas essas informações a respeito do vazamento dos cables e da atual discussão sobre Internet e liberdade nos EUA, podemos discutir uma questão que une estes fatos: o Open Government e até qual ponto ele deve ser levado e/ou desejado.

Para explicar: o Open Government é uma doutrina de governo que prega a total abertura, em todos os níveis, da administração do Estado para escrutínio público e fiscalização. Está 'na moda' nos Estados Unidos devido à grande ênfase da campanha de Obama no tópico transparência, à grande discussão na mídia, e também com o rumo que algumas administrações vem tomando neste sentido - como San Francisco e Nova York.

Altamente aliada à discussão do Gov 2.0, a questão do Open Government envolve necessariamente a Internet, que, por sua velocidade e alcance, se mostra como o único meio de um controle amplo, real e atualizado por parte de quem tiver interesse.

Entretanto, foi exatamente na Internet que, com o caso cablegate na WikiLeaks ao longo da última semana, foi deflagrada a distância que estamos disto acontecer - mostrando que pode não passar de um simples idealismo -, e quais os prós e contras envolvidos neste projeto.

De um modo geral, a discussão sobre o vazamento se dividiu entre quem a criticou ferozmente, baseando-se na razão de Estado e na segurança nacional para caracterizar a divulgação como afronta e risco aos interesses norte-americanos, e quem entende que não divulgar, mesmo já tendo obtido todos os dados, seria uma falta enorme com o compromisso jornalístico e uma omissão com os ideais de maior abertura do governo, etc.

Da parte dos críticos, a Casa Branca, em sua carta aberta, defende que a publicação de documentos secretos gera os seguintes riscos:

* Place at risk the lives of countless innocent individuals -- from journalists to human rights activists and bloggers to soldiers to individuals providing information to further peace and security;

* Place at risk on-going military operations, including operations to stop terrorists, traffickers in human beings and illicit arms, violent criminal enterprises and other actors that threaten global security; and,

* Place at risk on-going cooperation between countries - partners, allies and common stakeholders -- to confront common challenges from terrorism to pandemic diseases to nuclear proliferation that threaten global stability.

Parece ser a mesma posição das Forças Armadas, cuja visão pode ser expressa pelo "Joint Chiefs of Staff, Almirante Mullen" no vídeo abaixo:





Do outro lado, estão atores como ONGs pró-transparência governamental, defensores do open government e, principalmente, os veículos de mídia que fizeram a veiculação - WikiLeaks, Der Spiegel, The Guardian, The New York Times, Le Monde, El País, etc.

De um modo geral, pode-se dizer que o embate apresentado é o mesmo da discussão do Open Government: até onde a população deve saber? É mais eficiente para a democracia que a grande maioria não sabe o que se passa? Devemos preterir a democracia ou a eficiência?

Enfim, são diversas questões, seguidas de perto por analistas como Alexander Howard no Huffington Post tratadas de modo mais complexo em posts como este que serão altamente presentes nos próximos passos dos governos, das mídias, da Internet e da própria democracia, e que devemos estar atentos para separar quais os reais ganhos nesta evolução.

3 de dezembro de 2010

O Partido Republicano e os homosexuais

Os casos de ataques a gays ocorridos no Brasil nos últimos dias, não são fatos isolados no mundo, podemos encontrar relatos de perseguição a homossexuais em praticamente todos os países do mundo. Nos EUA, que teoricamente seria um país gay-frendly, que preza muito as liberdades individuais e que tem um histórico de lutas por direitos dos homossexuais marcada pelos chamados Stonewall Riots em 1969, não é diferente. Apesar de ser um dos países com uma das comunidades gays mais organizadas do mundo (Gay Liberation Front, Gay Activists Alliance, marchas do Gay Pride), há no país ainda registros de inúmeros ataques a homosexuais como os ocorrido no bairro do Bronx em Nova York em outubro. Acredito que até aqui não há nenhuma novidades afinal , apesar de atitudes como essas serem inaceitáveis, a intolerância com o “outro” é recorrente e sempre existiu na história da humanidade . O que espanta e quando um dos dois maiores partidos dos EUA(país mais influente do mundo), adota uma posição de desprezo e descriminação a homosexuais como podemos assistir no discurso de Carl Paladino, candidato republicano ao governo de Nova York, feito em uma sinagoga de Williamsburg :



No vídeo o gays são chamados de pervertidos e Paladino afirma que não quer que seus filhos acreditem que ser gay é uma opção igualmente válida e próspera como ser heterosexual, porque, segundo ele, não é. Dois dias depois após perceber a repercussão de seus discurso o candidato distribuiu um e-mail afirmando ter feito uma escolha “pobre” de palavras. Quando vi esse video acreditei ser um caso isolado mas após uma breve pesquisa pude perceber a recorrência em outros discursos de outros candidatos republicanos. Certamente o que mais chamou atenção foi dos republicanos do estado de Montana, o partido republicano naquele estado adotou uma plataforma oficial de transformar todos atos homossexuais em ilegais trazendo de volta um artigo que criminalizava a homossexualidade mas que foi derrubado em 1997, quando a suprema corte do país proibiu qualquer lei que discriminasse gays. Devemos apontar também, por último mas não menos importante, a candidata a vice presidente nas ultimas eleições Sarah Palin, talvez a republicana mais conhecida no mundo atualmente, segundo ela deveria haver uma alteração na constituição americana que baniria o casamento gay e assim o casamento deveria ser considerado como uma união entre um homem e uma mulher, excluindo assim qualquer forma de casamento gay. Apesar de o partido não se afirmar abertamente homofóbico, são inúmeros casos que apontam para perseguição ao direito dos homosexuais de se unir e criar famílias. Vale apontar que os republicanos representam uma parcela considerável da população americana que realmente defende o banimento de leis que dão diretos aos homosexuais de se casar ou de se relacionar abertamente com quem quiserem, demonstrando que o problema é na verdade muito maior, uma vez que ainda esta enraizado em grande parte da sociedade americana atual.

Uirá Rocha

2 de dezembro de 2010

Cablegate. Open Government e Internet x Liberdade - Parte II

Aproveitando o último post, acho que é válido alertarmos para a importante discussão que vem acontecendo nos EUA sobre a Internet, que perpassa questões importantes como a primeira emenda, as liberdades e a segurança nacional.

Há algum tempo, há nos Estados Unidos um movimento de criar legislação e orgão especiais para controle da Internet, com diversas propostas de regulação e participação na rede. Embora tradicionalmente os republicanos estejam mais associados a estas propostas, recentemente vem havendo uma participação mais ativa dos democratas nesta questão.

Em junho deste ano, veiculou-se projeto de lei do republicano Joe Lieberman que "Permitiria ao presidente dos EUA desligar a web". Agora, em Novembro, tramitam duas propostas diferentes: uma lei que o UOL intitulou como"lei para "espionar" usuário da internet", e uma outra - do democrata Patrick Leahy, que seria, para alguns, uma "lei draconiana para censurar a internet no mundo inteiro".

Quem argumenta a favor de maior controle alega que a Internet, pelas suas características de liberdade, anonimato e descentralização é também um ambiente de anarquia e de desinformação - sem falar nas questões de segurança cibernética nacional. Além disso, a perda de privacidade se justificaria pelo ganho em segurança, já que a Internet viria a ser uma outra ferramenta para combater crimes e ameaças.

Se este tipo de visão prevalecer, um ambiente antes visto como "sem regras" poderá, em breve, passar a ser controlado e vigiado - e seus usuário, punidos, - com a utilização recorrente de procedimentos como 'grampos' virtuais e a expansão da inteligência cibernética como arma de espionagem, contrainteligência e contraterrorismo.

Contra estes políticos e a parcela da mídia e população que apóia estas medidas, está um movimento virtual cada vez mais organizado (como a EFF), que baseia seus argumentos nas idéias de que os princípios da primeira emenda devem se aplicar à Internet, no ideal de liberdade e individualimo (já citado aqui neste blog) e na acusação de invasão de privacidade - todos frames bastante sensíveis aos americanos, e bastante interiorizados e naturalizados pela sociedade dos EUA.

Independentemente da sua posição, uma pergunta há de ser feita: "Não são os EUA o lugar da liberdade e do uso da tecnologia?" Parece estranho que a cultura que se apresentava como defensora da liberdade total em oposição à igualdade da URSS, e que produz inúmeros filmes reforçando a positividade de tecnologias com poder destrutivo (vide O Núcleo) se volte contra um produto e/ou símbolo destes ideais tradicionais.

Cabe também registrar que partes dessas leis pretendem dar aos EUA o poder de retirar do ar (através do sistema de domínios e de seu papel central na Internet) não só sites americanos, como também sites teoricamente situados em provedores de outros países - medida vista como essencial nesta luta, já que muitos dos sites como o WikiLeaks ou mesmo o PirateBay, ótimos exemplos dos 'alvos' a serem controlados/censurados/coibidos, escolhem países com legislação mais branda como sede.

O futuro desta discussão e os novos caminhos na Web dependerão do rigor planejado para as próximas leis, da iniciativa popular e virtual para estabelecer os limites de liberdade e privacidade e em parte de uma discussão global sobre o tema, já que em outros países, como aqui, há discussões e leis no mesmo sentido (Lei Azeredo - AI5 Digital).

O importante é sempre ter em mente que a Internet é um meio tão ágil que, até agora, se mostra mais veloz do que as legislações que a tentam controlar, e que novidades como o WikiLeaks constantemente acrescentam novos argumentos, para ambos os lados da moeda.

Leo Henry

Cablegate. Open Government e Internet x Liberdade - Parte I

Na semana passada, o WikiLeaks anunciou que iria iniciar a divulgação de mais de 250.000 cables - 'telegramas' enviados entre diplomatas americanos pelo mundo e o Departamente do Estado dos EUA - entre 1966 e Janeiro de 2010, dos quais 100.000 são confidenciais e 15.000 são classificados como secretos.

Segundo o mesmo site, essa divulgação seria "the largest set of confidential documents ever to be released into the public domain", e, independentemente das opiniões sobre a legitimidade e prudência de tal divulgação, é inegável que este está sendo, certamente, um dos fatos mais impactantes para a política externa americana no segundo semestre.

Nesta primeira parte, vou abordar parte dos conteúdos vazados até agora, e em linhas gerais quais são os possíveis prejuízos dos EUA em política externa, e o que isso pode nos dizer sobre a postura dos EUA em relação a outros líderes e países.

Os cables (clique nos links para ver exemplos) trazem importantes revelações sobre os bastidores da Política Externa Americana, deflagrando por exemplo diversas opiniões de líderes internacionais, o entrelaçamento entre a diplomacia e a inteligência, além das preocupações e opiniões americanas sobre o resto do mundo (incluindo o caráter dos líderes) e sobre relações governos-empresas e empresas-empresas.

Para uma maior noção do caráter dos dados que foram publicados, segue um pequeno resumo do que saiu:

> As principais fontes dos cables, ordenadas por número de mensagens enviadas: Secretaria de Estado, Ankara, Bagdá, Tóquio, Amã, Paris, Kuwait, Madrid, Taiwan e Moscou.

> A Embaixada Americana em Brasília é somente a 41ª fonte na lista de envios.

> O país mais discutido foi o Iraque, citado em 15.365 cables

> Os assuntos mais discutidos (segundo categorização própria) foram:
* Política Externa – 145,451
* Assuntos de política interna – 122,896
* Direitos Humanos – 55,211
* Condições Econômicas – 49,044
* Terroristas e Terrorismo – 28,801
* Conselho de Segurança da ONU – 6,532

Apesar da diversidade e amplitude dos dados publicados impossibilitarem tratarmos de todos os artigos e novidades que apareceram, vale a pena citar a lista elaborada por Zachary Roth das dez principais revelações trazidas à tona:

1. Diversas nações do Oriente Médio estão muito mais preocupadas com o programa nuclear iraniano do que demonstraram publicamente.

2. O Embaixador americano em Seul disse que negociações poderiam levar a China a "patrocinar" a idéia de uma Coréia reunificada.

3. A administração Obama ofereceria bônus a países dispostos a receber os detentos de Guantánamo, ao longo de sua tentativa de fechar a base.

4. O vice-presidente afegão Ahmed Zia Massoud teria levado 52 milhões de dólares em espécie em sua visita para os Emirados Árabes Unidos no ano passado.

5. Os EUA estão numa tentativa de retirar urânio altamente enriquecido de um reator paquestanês desde 2007, por medo de que ocorra a construção indevida de uma arma nuclear ilegal.

6. A Secretária de Estado, Hillary Clinton, pediu a seus pares internacionais que reunissem informações sobre os líderes de seus países e de organizações como a ONU.

7. O Qatar é visto como o Estado menos ativo na luta contra o terrorismo em toda sua região.

8. Os Primeiro-Ministros Putin e Berlusconi mantém uma relação muito mais próxima do que se imaginava.

9. O Hezbollah continua a receber armamentos da Síria.

10. Muitos dos cables mostram opiniões nada diplomáticas e pessoais sobre os líderes internacionais.

O que podemos notar ao olhar para estes assuntos, é que de um modo geral os EUA tentam, também através de sua diplomacia, reunir o maior número possível de informações sobre todos os líderes, países e situações que possam ter algum influência em seus objetivos diretos ou que possam significar um risco no futuro.

Há diversas análises colocando os EUA como arrogantes, "traiçoeros" e até obscuros em sua Política Externa, pelo fato de não medirem esforços e não se basearem em ações éticas (sendo as duas práticas exemplificadas pela espionagem do Secretário Geral da ONU, Ban Ki Moon) para defender seus interesses.

Para finalizar, também vale a pena ver que a repercussão deste escândalo deixou os EUA numa saia-justa com diversos países, e que, embora a desconfiança seja inevitável por algum tempo, os EUA estão correndo para minimizar os danos causados pela divulgação da parte oculta de sua diplomacia.

Não há dúvida do alcance de um escândalo como este, e que a até então respeitada diplomacia americana sofreu um duro golpe.

Se importantes indagações como "qual é a parcela de informações que temos sobre os processos globais?", ou se "sabemos as reais motivações dos atores políticos?" são levantadas, temos ao menos uma certeza: nem sempre os países expõe o modo como praticam o "Pensar Global".

P.S.: Para os interessados, vale a pena dar uma olhada na lista dos "principais insultos a líderes mundiais".


Leo Henry