17 de agosto de 2010

Ground Zero Mosque

A construção da (possível) mesquita perto do Ground Zero em Nova York tem ocupado a mídia americana. É interessante ver como estão sendo construídos os frames deste tema por meio de escolhas específicas de vocabulário. Por exemplo, a expressão 'ground zero mosque' é o termo usado no discurso conservador para se referir a essa construção e tem sido repetido pelos que defendem a construção.

Como diz George Lakoff e como temos visto no curso, a reutilização dessa expressão reforça o frame. 'Ground Zero' é o centro do local onde havia o World Trade Center, destruído nos ataques de 11 de setembro. O frame dessa expressão é patriótico, nacionalista, anti-terrorista, anti-muçulmano, de revolta, etc.

Quando você junta a palavra 'mosque', cria-se automaticamente uma contradição, pois mesquita evoca o frame da religião muçulmana, que está ligada na rede de associação conceitual (aula de ontem!) da sociedade norte-americana atual com o terrorismo. Ou seja, são dois frames conflitantes que estão convivendo na mesma expressão, no mesmo conceito.

Automaticamente, portanto, a reação é negativa: ninguém (americano), in their right mind, pode ser a favor de um ground zero mosque. Brilhante! Aplausos a Dr. Frank Luntz e Cia! Tudo bem até que saibamos que a mesquita não é necessariamente uma mesquita (pode ser um centro cultural) e que não vai ficar no ground zero (on ground zero) mas perto do ground zero (near ground zero).

Então, it is not (necessarily) a mosque and it is not on ground zero. Mas como já vimos no curso, não adianta negar o frame colocando um não na frente dele... Ou, como disse Ceci Connoly no Fox News Sunday desta semana, se você tiver de explicar alguma coisa, já perdeu...

2 comentários:

  1. Puxando um gancho com política brasileira (inevitavelmente), ontem eu vi o Serra mais uma vez falando de seu "programa de governo", sobre construir "policlínicas". Mas este têrmo foi lançado pela campanha da Marta à prefeitura de São Paulo, (na qual ela perdeu).

    Não sei se cabe o paralelo, mas o PT, com sua "mãe dos pobres" e etc evoca muito mais o estilo discursivo caloroso dos republicanos.

    Enquanto isso, nosso ilustre "picolé de chuchu" e sua trupe tucana continua defendendo uma postura racional, e perdendo, com isso, cada vez mais votos.

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  2. É verdade, Aline, o PT, na minha opinião, detém a primazia da comunicação política nacional, como acontece com os conservadores americanos. Isso mostra que dominar o discurso político não tem a ver com ideologia partidária. Mas talvez tenha a ver com nacionalismo, pois tanto o PT quanto o partido republicano são nacionalistas. Mas isso sozinho não explica a vantagem de um ou de outro. Ao contrário dos republicanos, que construíram essa vantagem linguística por meio dos think tanks, os petistas parecem tê-la construído na prática, ou seja, nos sindicatos, que tiveram de construir sua imagem discursivamente nas fábricas e nas negociações com os patrões e governo. Isso deve ter ajudado a 'treinar' e 'afinar' o discurso petista. Enfim, isto é apenas um brainstorming que talvez mereça uma reflexão mais séria. Aí, pessoal, pesquisa anyone? :-)

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