27 de setembro de 2010

COMO ASSUSTAR SUA PRÓPRIA POPULAÇÃO, by George W. Bush

Dica de leitura: Michael Moore – Cara, cadê o meu país?           
Nesse livro, e mais incisivamente no capítulo 4 entitulado “Os Estados Unidos do BUU!, te assustei!”, Moore explica, critica e satiriza a campanha contra o terror (War on Terror) de George W. Bush divulgada para o mundo - pois já havia sido iniciada em 2000 - logo após os atentados de 11 de setembro de 2001.

O vídeo abaixo foi gravados em 20 de setembro de 2001, 9 dias após os ataques às torres gêmeas em NY. O objetivo aqui é analisar os “frames” evocados por Bush em parte de seu discurso, a fim de convencer, principalmente o povo norte-americano, da necessidade de se realizar uma Guerra contra o Terror.(infelizmente, não consegui baixar os videos para cortá-los, e por isso coloquei a primeira parte na íntegra e transcrevi os trechos após, adicionando meus comentários).


A RECEITA INFALÍVEL
1)      Ingredientes: antes de começar, tenha sempre em mãos aqueles valores inquestionáveis para a sociedade ocidental e que nunca podem faltar num discurso como esse:

Tonight we are a country awakened to danger and called to defend freedom. Our grief has turned to anger and anger to resolution. Whether we bring our enemies to justice or bring justice to our enemies, justice will be done.

Americans are asking, why do they hate us? They hate what we see right here in this Chamber, a democratically elected government. Their leaders are self-appointed. They hate our freedoms—our freedom of religion, our freedom of speech, our freedom to vote and assemble and disagree with each other.        2) Modo de fazer (massa): Misture muitas palavras/características feias e cruéis para fazer uma massa, ou melhor, uma imagem bem reforçada a respeito do seu inimigo (afinal, até então boa parte dos norteamericanos não faz ideia do que é a Al Qeada)

They are the heirs of all the murderous ideologies of the 20th century. By sacrificing human life to serve their radical visions, by abandoning every value except the will to power, they follow in the path of fascism and nazism and totalitarianism.

3)      Modo de fazer (recheio): Aqui não dá pra inventar muito, senão o gosto não fica como esperado. Por isso, garanta que sua fala seja clara e que se utilize de palavras absolutamente inquestionáveis, ou seja, aqueles ingredientes da vovó que nunca erram. (Aqui, podemos enxergar aquilo que vimos em aula de que existem algumas “palavras” em relação às quais a grande maioria das pessoas já possui um frame quase que absoluto, como é o caso do bem x mal. Ninguém é a favor do mal, certo? Logo, fazendo o link entre “terroristas” e “mal”, e entre “americanos” e “bem”, Bush e seus aliados convencem a muitos sobre quem eles devem apoiar, ou ao menos justificam para alguns o porquê das atitudes que viriam a tomar):

And we will pursue nations that provide aid or safe haven to terrorism. Every nation, in every region, now has a decision to make: Either you are with us, or you are with the terrorists. From this day forward, any nation that continues to harbor or support terrorism will be regarded by the United States as a hostile regime.

4)      Modo de fazer (cobertura): a ideia aqui é fazer aquela lambança total após ter mexido bastante com o emocional dos telespectadores. Abuse dos antônimos e dos apelos diretos, para deixar todos bem confusos e acreditando que você é o único capaz de entender e resolver esse impasse:

Americans are asking, what is expected of us? I ask you to live your lives and hug your children. I know many citizens have fears tonight, and I ask you to be calm and resolute, even in the face of a continuing threat.

No one should be singled out for unfair treatment or unkind words because of their ethnic background or religious faith.

O medo, do tipo racional, é uma parte fundamental da nossa capacidade de sobrevivência. Pressentir o perigo verdadeiro e agir de acordo com ele é um instinto que vem servindo bem a nossa espécie pelos milênios afora.

CONCLUSÃO: Nada com um belo susto para curar um simples soluço!

Um comentário:

  1. Muito interessante a análise! Acho que Bush (e todos os políticos que buscam diferenciarem por meio do contraste) adotam o frame 'US versus THEM' [o PT e Dilma tem a vantagem nesse quesito, no Brasil]. Claro que quem tem a fala domina esse frame e pode pintá-lo como bem desejar, reforçando assim as características do 'nós' e denegrindo as do 'deles'. Vemos isso hoje muito claro no debate da mesquita do Ground Zero, em particular, e na questão do Cristianismo vs Islamismo, em geral. Essa estratégia de 'frame the debate', como vimos no início do curso, é essencial para garantir a dominação de um ponto de vista/ideário. A Fox News, por exemplo, já percebeu isso faz muito tempo, porque como seu próprio slogan diz, 'fair and balanced', implica em dizer que basta colocar dois pontos de vista diferentes no mesmo espaço que a igualdade está garantida (é a metáfora PROXIMIDADE FÍSICA É JUSTIÇA). Mas como temos visto no curso, quem coloca seus frames tem vantagem (a metáfora do ENQUADRAR SUAS IDÉIAS É EXPRESSÁ-LAS BEM), e no caso da Fox, eles 'get to frame the debate', pois colocam seus frames da maneira mais favorável a suas causas, tornando assim muito difícil que os convidados obtenham vantagem ou mesmo clareza no debate.

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