29 de setembro de 2010

Há estratégia política?

Prezados,
Em minha primeira postagem neste meio de comunicação tão intrigante e influente que é o blog, falaremos do assunto do ano: Copa do Mundo! Não, é mentira. Falemos então do segundo assunto mais comentado do ano em nosso país: as eleições.

No Brasil, o ano já não começa definitivamente no dia 1º de Janeiro. Em anos considerados “normais” temos o início de um novo ano logo depois do Carnaval. Mas, de quatro em quatro anos temos um especial que não é o bissexto. E sim o de Copa do Mundo e de Eleições. Assim, deixamos para dar o nosso “Feliz Ano Novo!” aos nossos amigos e familiares só em Outubro. Bom, isso se não tivermos o segundo turno, caso contrário... Só em Novembro (aí também já é fim de ano de novo, e deixamos tudo mesmo pra depois da Quarta-Feira de Cinzas).

Esta, então, “precariedade do sistema brasileiro” reflete-se não só na nossa percepção de que 2010 nunca começou, mas também, e principalmente, na propaganda política. Não estou levantando a questões dos cômicos candidatos que este ano eleitoral nos introduziu e sim na campanha dos principais candidatos à Presidência da República.

Vamos começar pela candidata do nosso atual presidente: Dilma Roussef. A dita como sucessora de Lula, “mãe” dos projetos que visam o desenvolvimento de nosso país vem com um programa eleitoral à la "Lula Lá" mesmo. A mensagem a qual vemos é a mesma que elegeu e reelegeu Luís Inácio, voltada essencialmente aos menos desfavorecidos.

Se pensarmos um pouco em relação às discussões em aula, vamos aos assuntos dos frames. E qual seria este frame evocado pela candidata do PT? Simples. A resposta é a palavra “simples”. Dilma mostra em suas propagandas o desenvolvimento do Brasil e pessoas comuns, falando de assuntos corriqueiros, com uma linguagem mais fácil e direta. Sem muitos rodeios e sem a temida complicação que só despertaria nos eleitores confusão e desconfiança. Dilma estaria então tentando encontrar o "avarage brazilian". Assim como os republicanos nos EUA fazem.



A propaganda do PT mostra em Lula o "avarage brazilian", que sozinho e através de seus esforços e de uma vida totalmente cheia de desafios, chegou ao poder e conquistou o carisma e confiança de um povo todo. Pegando carona neste barco, Dilma conta sua história em um tom muito simplista (pois contar a fundo o que fez, não elevaria tanto a figura da batalhadora mulher) e mostra que o objetivo que Lula alcançou, também pode ser alcançado por ela e por qualquer um que saiba lutar por aquilo que é importante para o país. Somado a isso, temos todo um aparato de instituições de políticas públicas criadas em oito anos de governo que só ajudam a fixar a idéia. Nada mais que isso. Logo, temos apenas um grupo (porém grande em número) de brasileiros que se identificam com a mensagem, que têm o frame alocado em seus cérebros e que vão votar no 13 próximo dia 3.
Do outro lado, temos uma das campanhas mais atípicas e forçadas dos últimos anos. A do candidato tucano José Serra. A intenção é das boas, mas como todos nós sabemos, o inferno está cheio destas. O frame evocado desta vez é o da complexidade. Serra planeja mostrar os vários Brasis que existem e as várias camadas as quais ele deve atender. Em meio de várias propostas de Ministérios especiais, secretarias, projetos, mutirões, programas ele mostra que não só de avarege brazilians é feito o nosso país. Essa enxurrada de planos acaba por afogar não só o mais simples moradores dos profundo interior do Brasil, mas também o mais vanguardista morador de uma das grandes capitais.


O candidato e seus estrategistas não conseguem passar a ideia de que a complexidade é uma coisa boa de ser trabalhada e precisa ser trabalhada ainda mais em um Brasil como o nosso tão diverso. A face e o tom de voz cansados de Serra confundem o eleitor que ouve as diversas propostas, mas pensa que tudo não passa de um simples emaranhado de promessas difíceis de serem cumpridas, simplesmente por não serem simples. Somado a isso, temos uma linguagem mais aperfeiçoada e uma tentativa quase cômica que equiparar a mensagem de Serra aos mais pobres, com caricatos e forçados personagens “pobres” nas propagandas. A linguagem então vai atingir os mais favorecidos que tiveram mais oportunidades de estudar e enfim entender tudo o que o tucano tenta introduzir em seu programa. Logo, temos uma metáfora: Se não é simples, é ruim. E assim, vemos a candidata do PT (o qual o frame evocado atinge mais pessoas) aparece em todas as pesquisas de opinião de voto beirando seus 49,50 e 51%, o que já lhe daria vitória no primeiro turno.

Correndo quase avulsa a isso, temos a candidata do Partido Verde, Marina Silva, que ainda tenta emplacar o seu “Yes We Can” brasileiro, mostrando que uma imagem nunca relacionada ao Presidente da República também pode, e deve assumir o cargo mais importante do país. O difícil e lento desenvolvimento do desempenho de Marina e de sua "onda verde" deve-se a maior complexidade de seus projetos e linguagem (Marina é dita como a mais bem articulada e que melhor fala entre os três candidatos).


Depois desta análise, podemos concluir minha reflexão da seguinte forma: Há estratégia nas eleições brasileiras? Sim. Há estratégia política equiparada à dos EUA? Definitivamente não.

Nos EUA, os partidos Republicano e Democrata utilizam linguagem especial, ações especiais, mídias especiais e tudo mais que tiver de especial. Tudo é voltado para relacionamento com os eleitores. Há a tentativa de construir novos frames nas mentes americanas assim como há tentativa de reconstrução. Os candidatos batem na mesma tecla, mas sabem fazer uma coisa que ainda não foi desenvolvida no Brasil: A contra-estratégia. Isso, aqui na República Federativa do Brasil, os estrategistas ainda não sabem fazer muito bem...
Fico por aqui! Desejando que todos votem com sabedoria!
Até a próxima!

Um comentário:

  1. É verdade, o frame 'simples' e sua metáfora 'BOM É SIMPLES', é perseguido pela campanha política. Concordo que quem tem tido mais sucesso em ativá-lo tem sido o PT. Eles têm prática de comunicação em massa, por conta dos sindicatos e da igreja, me parece, ao passo que o PSDB ainda é preso ao discurso acadêmico, visto que no seu cerne está a universidade. Interessante o contraste com os EUA, porque lá, como temos visto no curso, foram os conservadores que perceberam logo o valor de se comunicar diretamente como 'average guy' (e criar essa figura mítica, verdadeira personalização da metáfora, como também vimos no 'John Doe', em que a idéia precede a pessoa). Aqui, por outro lado, foram os, podemos assim chamar, marxistas / esquerdistas. Como se vê, 'esquerda' e 'direita' hoje são rótulos que não explicam quase nada mais.

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