31 de outubro de 2010

Quadro político de forças nas eleições legislativas de 2 de novembro e os latinos: Nevada, um resumo nacional

No post anterior procurei analisar o peso do movimento cada vez mais presente e influente do Tea Party Movement nas eleições legislativas de novembro. Agora, a vésperas destas, proponho um pequeno estudo sobre outra importante parte da sociedade norte-americana neste processo: os latinos. Mas desta vez, entretanto, me focarei sobre um Estado específico, o de Nevada (oeste do país).

O motivo desta escolha é que em Nevada encontramos uma disputa que simboliza aquilo que ocorre em todo o país: democratas enfrentando o perigo crescente de perderem seus postos para outras forças não tradicionais em áreas nas quais eles sempre foram predominantes.
No caso de Nevada temos o senador Harry Heid, líder democrata no senado e a mais de 16 anos no poder, tentando seu quinto mandato consecutivo, contra a nova força política e extremista representada pela candidata republicana, provinda do Tea Party Movement, Sharron Angle.

eafirmando o que foi dito, o professor Eric Herzik, professor da Universidade de Nevada afirmou que ‘ a eleição aqui no Estado [de Nevada] diz respeito á disputa nacional ’, fazendo referencia a dificuldade de obter votos por parte dos democratas em seus redutos tradicionais frente novas forças na política norte-americana.


Voltando ao caso dos latinos, ainda que não seja um fenômeno tão atual como o Tea Party Movement, existe um consenso de que a parcela dos latinos dentro dos Estados Unidos representa cada vez mais um eleitorado considerável no país e por isso deve ser incluída como parte da estratégia do jogo político de ambos os partidos nas eleições.

Juntos eles representam algo em torno de 12 milhões de votos no país. No estado de Nevada eles são 14% do eleitorado total. “Nevada é o Estado em que os eleitores latinos têm a maior chance de influenciar o resultado”, disse à BBC Brasil o cientista político Matt Barreto, professor da Universidade de Washington especializado em voto latino. Segundo ele nos últimos 8 anos o número de latinos chegou a dobrar em Nevada.

No estado isso já foi percebido tanto pelo partido democrata, que sabe que depende mais do que nunca dos votos provindo dos latinos, já que grande parte de seu eleitorado não latino – não satisfeito com a situação econômica do país – pode votar em candidatos republicanos como punição a seus antigos políticos democratas;

Mas também pelos republicanos, que ainda que não lancem campanhas ou mensagens que sinalizem uma vontade de incluir essa parcela da população em seu governo, são acusados de divulgarem um vídeo no qual se pede que os latinos não votem como protesto e revolta as promessas, segundo eles não cumpridas, pelo presidente Obama em sua campanha presidencial de 2008.


Do lado dos democratas um levantamento da National Association of Latino Elected and Appointed Officials indica que 65% dos hispânicos registrados para votar apoiam candidatos democratas ao Congresso. Entretanto existe o medo de que os latinos não saiam de suas casas para votar no próximo dia 2 ou ainda vote em um candidato republicano. A falta de reforma para imigrantes desestimula o voto de hispânicos em ambos os partidos, mas essa perda pode ser mais sentida pelos democratas.

Por isso mesmo o presidente Barack Obama vem pedindo aos eleitores latinos que compareçam às urnas no dia 2 de novembro para seguir lutando pela reforma migratória no país e combater o "não se pode" dos republicanos. Na última terça feira o presidente afirmou que "em 2008, nos propusemos a missão de mudar o rumo deste país. A

 comunidade latina nos ajudou a realizar essa grande mudança", ao reconhecer que alguns assuntos ainda estão pendentes. Em seguida continuou afirmando que "sabemos que muitos estão frustrados por estar no final da fila", mas "ainda há muito trabalho a fazer, em matéria de trabalho e imigração, pequenos negócios que temos de terminar".

Já os republicanos não apelam aos latinos, mesmo porque não é de seu interesse incluir essa parcela da população em seu plano de governo, muito pelo contrário. O centro da campanha da candidata Sharron Angle em Nevada consiste em denunciar a má situação econômica do Estado.

Com sua economia baseada no turismo e na construção civil, dois setores fortemente atingidos pela crise econômica, a cidade de Reno é um retrato do que ocorre em Nevada, Estado com alguns dos piores indicadores econômicos do país. Entre as principais propostas da candidata estão á redução da interferência do Estado, de gastos públicos e de impostos, e a oposição a quase todas as medidas do governo Obama, desde a reforma do sistema de saúde até os pacotes de resgate aos bancos.

Mas se engana quem pensa que ela não está preocupada com o eleitorado latino na região. Um vídeo publicado por um grupo chamado Latinos for Reform, diz que o presidente Barack Obama e os políticos democratas prometeram uma ampla reforma da imigração, mas não levaram a promessa adiante em dois anos de governo. O senador Harry Heid, em um de seus comícios pelo Estado afirmou que o vídeo é um dos anúncios políticos de sua opositora, que nega o fato.

Nele não se vê o nome da candidata ou de seu partido, mas sim uma narrativa crítica ao partido democrata por não ter realizado suas promessas para com a parcela latina no país. Caso confirmado a ligação do vídeo a Sharron Angle, se trataria de uma estratégia política de tentar utilizar o fraco desempenho do presidente Obama, pelo menos naquilo que concerne a sua promessas para com os latinos, contra os democratas, anulando essa potencial massa de votos democratas em um momento no qual eles precisam desses votos.

Seja como for a questão dos latinos é importante não só em Nevada mas em todo o país, já que abrange diversos campos: o político, o social, a economia e até a estratégia de política eleitoral a ser utilizada.


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