29 de novembro de 2010
Tv Tropes
Primeiro: o que é um trope? De acordo com o site, são convenções que estão presentes na mente da audiência. O autor pode contar com o fato que os espectadores implicitamente reconhecerão essas convenções. Representam formas de contar histórias (seja na TV, nos filmes ou em livros) que são familiares e facilitam o entendimento.
O post da Christine falou sobre os Sassy Gay Friends, e as Sassy Black Women.
O Magical Negro também está entre os tropes identificados: um termo popularizado pelo Spike Lee, representa um personagem cujo único objetivo é ajudar o herói a superar uma dificuldade. Cumprido o objetivo dentro do desenvolvimento da história, o Magical Negro normalmente morre ou simplesmente desaparece. Na página no Tv Tropes, Morgan Freeman ganha uma subseção especial.
Quando falamos da Ann Coulter, Elizabeth Hasselbeck e até mesmo da Sarah Palin, estamos falando de Blonde Republican Sex Kittens: figuras políticas muito populares hoje em dia como forma de mostrar que os Republicanos não são todos "evil old men". Os exemplos citados incluem a Elle Woods (Reese Witherspoon em Legalmente Loira), Ainsley Hayes (Emily Procter em The West Wing), a personagem de Elizabeth Banks no 30 Rock (que apresenta seu programa com "Welcome to Fox News. I'm blonde"). Outro trope associado ao cabelo loiro é o Hair of Gold, que contrasta com o Blondes are Evil.
É interessante notar que as Girls Next Door vêm sendo substituídas por Manic Pixie Dream Girls em tempo recentes. Enquanto o Homem Aranha tem sua Mary-Jane, os anti-heróis nerds dos anos 2000 precisam de algo diferente: Clementine de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, Amelie Poulain e Summer de 500 Dias Com Ela são personagens que injetam um pouco de loucura e diversão às existências tristes dos protagonistas chatinhos (e que normalmente vestem bastante flanela).
Bom, recomendo um passeio pelo Tv Tropes, sua vida vai mudar.
Juliana
28 de novembro de 2010
Não pense em um elefante
25 de novembro de 2010
Gay Ex Machinas
Na televisão, os personagens são retratados frequentemente de uma certa maneira, a fim de torná-los mais reconhecíveis. Por exemplo, o comediante e escritor Brian Safi explica como os gays são retratados na mídia. O vídeo está aqui:
Safi explica que os personagens gays na televisão são mostrados como divertidos, elegantes, e “sassy.” Eles são reduzidos a um estereótipo facilmente reconhecível, “O Gay.” Eles sempre são o melhor amigo, a pessoa que resolve os problemas dos heterossexuais (usualmente uma mulher). Na verdade, há uma série de vídeos no youtube, O Amigo Gay Sassy:
Tem um estereótipo igual para afro-americanos na mídia, O Amigo Afro-americano Sassy. O amigo afro-americano é retratado na mesma maneira como o amigo gay sassy. Como resultado, o personagem negro parece inofensivo. No vídeo abaixo do programma 30 Rock, Liz Lemon tem uma amiga afro-americana e sassy:
Uma outra representação comum de afro-americanos na mídia é o Magic Negro. Agora, ‘negro’ é um termo bem ofensivo para um afro-americano, mas nos anos sessenta e setenta, a palavra era inofensiva e comum. Como falado na aula, o Magic Negro é uma pessoa negra que aperece magicamente e salva os problemas da pessoa branca. Isso é onde esses problemas da mídia começam a ser políticos. O termo Magic negro tem sido aplicado ao Barack Obama porque Obama é negro, mas não é bastante negro. Ao contrário do Snoop Dogg, Obama não faz as pessoas brancas se sentirem desconfortáveis.
Outros politicos americanos têm sido classificados da mesma maneira. Hillary Clinton é a Ballbuster. George Bush é o Cowboy. Dick Cheney é a Pessoa Mal. Sarah Palin é a Rainha de Beleza. Esses rótulos servem ao mesmo propósito como os estereótipos de televisão; eles permitem que o público não precisem pensar. Cada rótulo evoca um frame específico das mentes do público americano, permite que o público saiba tudo e nada sobre um político em poucas palavras.
Por exemplo, há um frame associado com a Rainha da Beleza. Na mente do americano, as rainhas da beleza são bem lindas, mas elas não são inteligentes. Elas precisam de beleza e carisma, não de um cérebro. Embora essa descrição descreva Sarah Palin, em geral a descrição ignora que ela é muito mais do que isso.
É um problema, com certeza.
Christine
19 de novembro de 2010
Como mudar a cabeça de um conservador?
Como vimos nas nossas aulas, o poder das palavras é muito maior do que a consciência das pessoas, até porque esta última, como também já vimos, é majoritariamente emocional, ilógica, irracional. Assim, para mudar a mentalidade de um conservador, é preciso ir também pelo caminho da linguagem. Vamos trabalhar com um exemplo:
Os eleitores do republicanos acreditam piamente que, se votarem nos democratas, terão seus impostos elevados. Isso me lembra muito o filme "Sicko -SOS Saúde" do Michael Moore, que, entre outros diversos trechos interessantíssimos, mostra um canadense falando sobre como ele não se importa em pagar mais impostos porque enxerga esse retorno diretamente no sistema universalizado de saúde de seu país como benefício para ele e também para os outros (sejam esses outros negros, pobres, gays, etc).
Ou seja, esses eleitores norte-americanos podem ser, minimamente, chamados de egoístas, pois pensam apenas na consequência negativa que esse aumento de impostos terá para o seu próprio bolso. Portanto, que tal responder na mesma moeda, ou seja, com o foco no "EU", ou melhor, no "VOCÊ"?
*Argumentos possíveis:
a) "Pagar mais dinheiro aos trabalhadores gera dinheiro pra você!"
Se você não paga o suficiente aos seus trabalhadores para eles suprirem suas necessidades básicas, eles terão de arranjar mais de 1 emprego, e aí então a produtividade cai e você perde dinheiro. Ou então, esse trabalhador vai procurar por algum auxílio-alimentação do governo, que é você quem paga! Por último, lembre-se que a classe trabalhadora é a classe consumidora, portanto, se o seu trabalhador tem uma renda extra, ele gastará com aquilo que você vende! Ah, e não se esqueça, se esse trabalhador resolver ter como "segundo trabalho" a marginalidade, é o seu carro que ele vai roubar.
b) "Seguro-saúde para todos vai fazer você ganhar dinheiro!"
Se nem você nem o governo proveem um serviço de saúde para os trabalhadores, isso lhe custará grana. Pois, se eles faltam ao trabalho por motivos de saúde, você perde dinheiro. Se os outros trabalhadores fizerem hora extra para compensar aquele que está doente, você perde dinheiro. Se eles deixam outras pessoas no trabalho doentes, você perde dinheiro. Se eles trabalham doentes, a produtividade cai, e você perde dinheiro.
c) "Dar dinheiro para as ecolas públicas faz você ganhar!"
40% da população carcerária dos Estados Unidos é funcionalmente analfabeta. De 1980 a 2000, os gastos estatais em educação subiram 32%. No mesmo período, os gastos com prisões subiram 189%! (Moore, 2000). Enquanto essas pessoas estão na prisão, você acha que elas estão te trazendo algum dinheiro? Não! E as pessoas que recebem seguro social, na maior parte, são analfabetas. Será que se esse quadro mudasse elas não poderiam estar trabalhando para você e te fazendo lucrar?
Eu sei que os argumentos chegam até a ser preconceituosos, mas como já disse, a ideia aqui não é ser racional, e sim tocar no emocional mais forte dos conservadores - o MEDO de PERDER DINHEIRO!
Deixo-os com uma notícia final:
Cortar gastos é prioridade, diz líder republicano (3.nov)
http://dinheiro.br.msn.com/artigo.aspx?cp-documentid=26215520
16 de novembro de 2010
Candidatos Crowd Sourcing e Mídias Digitais
Na verdade, a Sarah Palin atual é bem diferente da prefeita de uma pequena cidade do Alaska de alguns anos atras, e muitos outros frames já foram ativados nessa "evolução" dela.
A MATÉRIA EM QUESTÃO: http://www.nytimes.com/2010/11/16/us/politics/16bai.html?_r=1&ref=politics
Agora, sobre essa matéria, o conceito extremamente interessante e bem atual é o de "Crowd Sourcing Politics". Vamos a parte técnica: Crowd Sourcing significa uma mudança de apenas um fornecedor para um grupo deles, pulverizando seu fornecimento em vários diferentes pequenos produtores, e, se possível pagando menos ou nada por isso.
Um exemplo do artio é um site de notícias. Para que contratar uma agência com fotógrafos profissionais e caros se pode achar milhares de pessoas online que conseguem tirar fotos mais rapidamente, muito mais fotos talvez na mesma qualidade para alimentar seu site? Pegue de graça deles, conte com a ajuda deles.
O que isso tem a ver com política? Vai na mesma idéia: Para que "construir" um candidato, com seus frames, sua postura, suas opiniões e imagem se você pode "perguntar a audiência o que eles precisam" e simplesmente modelar um candidato exatamente como eles querem ver? Isso, isso sim é Crowd Sourcing Politics.
Atualmente há a difusão de diversos canais de conversa com público e interação just in time com os candidatos (Facebook, Twitter, Blog, etc). Essa situação possibilita o candidato a receber feedbacks não só nas urnas, mas sim no dia a dia, e detectar o que os eleitores estão e o que não estão querendo em seu candidato. Identificando essa necessidade, preenche-se o gap com uma mudança de postura, adaptação de discurso, etc.
Esse engenhoso método de usar o poder das mídias digitais como ferramenta para moldar políticos tem muito potencial, e Sarah Palin parece que está apenas começando a explorar esse nicho. Ela é tão grande quanto o público quiser. Tão extremista quanto eles quiserem. Tão imponente quanto o público quiser. Só depende do público.
Agora, com seu próprio Reality Show (na qual ganha USD 250,000,00 por episódio), Sarah pode mais e mais se moldar e ser moldada a partir do que o público quer. Basta uma boa edição de imagens, e você pode ter diversas opções.
Engenhoso, não?
12 de novembro de 2010
Generation Zero - um documentário.
11 de novembro de 2010
Lexington - The good, the bad and the tea parties
Lexington
A partial defence of the movement that has transformed the mid-term elections
Oct 28th 2010
IT IS not hard, if you really try, to find good things to say about America’s tea-partiers. They are not French, for a start. France’s new revolutionaries, those who have been raising Cain over Nicolas Sarkozy’s modest proposal to raise the age of retirement by two years, appear to believe that public money is printed in heaven and will rain down for ever like manna to pay for pensions, welfare, medical care and impenetrable avant-gardemovies. America’s tea-partiers are the opposite: they exhale fiscal probity through every pore. In their waking hours, and in bed at night, they are wracked by anxiety. How is a profligate America to cut borrowing, balance the budget and ensure that its billowing deficit will not place an unbearable burden on future generations?
The tea-partiers do not just have less selfish motives than the pampered French. They also have better manners. Let the French block roads and set things on fire: among tea-partiers it is a point of pride that their large but orderly rallies leave barely a crumpled candy wrapper behind them. Though some wear tricorn hats, and the movement takes its name from the Boston Tea Party, tea-partiers are peaceful folk. They take the view that one revolution was enough, and that the one America had in the 18th century established a constitution and form of democracy so near to perfect that they can get what they want without taking to the streets and just by working within the rules.
Whether they have worked hard enough they will not know until votes are counted after next week’s mid-terms, but in one way their labours have already borne fruit. In primaries all over the country they have secured the election of Republican candidates who are “true” conservatives, not the big-spending counterfeit Republicans whom they blame for leading the party astray under George Bush. The impure have been purged without mercy. Senator Bob Bennett, who has represented Utah for three terms, earned a lifetime rating of 84% from the American Conservative Union. He was turfed out for having voted in favour of the TARP, the Bush-era bail-out that may have staved off a financial collapse but has become a tea-party anathema.
America’s pontificating class is not yet sure how to take the measure of this strange new movement. Puzzled academics gathered last week at the University of California, Berkeley, to ask, among other things, how tea-partiers were “tapping into and/or managing the populist, libertarian and radical currents on the right, as well as fear, anger and resentment among segments of the American public”. The New York Times has published research suggesting that tea-partiers are mostly richer and better-educated than the average. The Washington Post spent months trying to contact every tea-party group in the nation. Having got through to 647 out of 1,400 it had identified, it found that some consisted of only a handful of members, if they existed at all.
Some call the tea parties an “Astroturf” phenomenon—not grass-roots types at all but the dupes of big business. To others they are merely the most recent incarnation of an ugly right-wing and sometimes racist populism that has surfaced before when times are hard. Such allegations are misplaced. Corporate money has indeed found its way into tea-party coffers, but if you attend a tea-party event you will generally find that it is indeed a self-organised gathering of citizens dismayed by what they see as the irresponsible behaviour of an out-of-control government. Strands of racism can be found on the movement’s fringe, but most tea-party groups have done their best to snip these off.
Along with the liberal disparagement comes a dose of wishful thinking. Some Democrats hope the tea parties will drag the Republicans so far to the right that mainstream voters will be scared away. That looks increasingly unlikely. Few tea-party candidates are as hapless as the overexposed Christine O’Donnell, the former campaigner against masturbation and present ignoramus whose selection as the Republican candidate in Delaware will probably cost the party a precious extra seat in the Senate. Other Senate candidates who were once deemed too radical to win, such as Rand Paul in Kentucky and Sharron Angle in Nevada, have adjusted the volume if not the content of their messages and now look eminently electable. Here and there—in Florida and Alaska, for example—tea-party pressure has split the conservative vote, but in the grand scheme that is a small price for Republicans to pay for the revivifying energy the movement has imparted to a party that looked dead in the water two years ago.
Not French, not fabricated and not as flaky as their detractors aver: these are the positives. Another one: in how many other countries would a powerful populist movement demand less of government, rather than endlessly and expensively more? Much of what is exceptional about America is its ideology of small government, free enterprise and self reliance. If that is what the tea-party movement is for, more power to its elbow.
Ideology is one thing. But if the tea-partiers do well next week, especially if the Republicans capture the House, they need to move past ideology into the realm of practical policy. This means having something serious to say about how actually to bring spending under control. To date, they have preferred breezy slogans. Will they cut into pensions and Medicare, and if so how? Will they accept that taming the deficit will require hikes in taxes as well as cuts in spending? Will they continue to oppose reflexively every measure of a Democratic administration, or have the courage to share responsibility for the painful decisions the times demand? It has been all too easy from the outside to conjure up a mythic America of limited government, sing hymns to the constitution and denounce the federal bureaucracy in all its forms. Once they are in government themselves, that gig will be over.
9 de novembro de 2010
As faces do Individualismo na sociedade norte-americana
8 de novembro de 2010
O velho papo da saúde...
Diante de um dos temas mais polêmicos e atuais da agenda estadunidense, a Saúde ( com "s" maiúsculo!) é um grande negócio! Vejamos para quem...
Abaixo, o trailer e a resenha.
Até!
Há quem questione a relevância do documentário de Michael Moore para telespectadores não-estadunidenses pois, embora a temática da saúde tenha apelo mundial, o objeto analisado pelo diretor denuncia um problema doméstico de seu país. Sem dúvida, o método comparativo apresentado no filme, e as próprias reflexões do narrador-autor, indicam um exercício de auto-análise que a princípio não nos diz respeito. Porém, o grande trunfo do documentário reside justamente na exploração desta brecha existente entre a temática de alcance privado e a de interesse de todos. A despeito de inúmeras referências internas – como nome de empresas, siglas, personalidades e processos jurídicos que só fazem sentido no universo amerciano – o estudo rompe com o possível equívoco da linguagem exclusiva para obter grande atenção onde quer que seja assistido.
Mais interessante do que a própria discussão sobre o sistema de saúde pública no Estados Unidos é o ácido questionamento levantado acerca da moralidade de uma sociedade que, para o bem e para o mal, construiu a maior potência do mundo pós-moderno. Ao se indagar com desesperança “ o que nós nos tornamos?”, Michael Moore passa a questionar não somente a escandalosa política de saúde negligenciada por seu governo, mas todo o complexo cenário em que esta inoperância pôde acontecer . Fica claro o fato de que não basta retomar eventos passados para se compreender de que forma se chegou a tamanho absurdo, faz-se necessário remontar de que maneira se construiu a identidade e a mentalidade deste país.
Esta nação que Michael Moore não reconhece mais é a nação que nascera dos imigrantes britânicos cansados do Velho Continente, que bravamente puseram-se ao mar para fazer surgir o novo-homem em um pedaço de terra virgem, ainda não contaminado pelos vícios da raça humana já disvirtuados da verdadeira essência bíblica. A mesma nação que encarnou o Destino Manifesto como razão de sua existência e que geriu em seu ventre mais do que ninguém o fetiche da democracia e da liberdade. Valores estes que, somados ao protestantismo e ao liberalismo, resultaram em uma miríade de convicções instintivas no imaginário do estadunidense .
A noção liberal do Estado mínimo, levado às últimas consequências pelos governos dos EUA desde a Guerra Civil – salvo em 1929 quando ele se viu obrigado a resgatar o país da sarjeta – deu carta branca às forças do mercado, que floresceram vertiginosamente no sonho americano. É curioso notar o estarrecimento da população quando, séculos depois, deparam-se com o resultado. O temerário sistema de saúde dos Estados Unidos é fruto de um povo que desde sua gênese optou por construir o seu espaço individual em detrimento da coletividade. Esta atmosfera ideológica e jurídica oferecida pelo país fomentou a potencialização da inerente tendência humana à ganância, propagando uma cultura competitiva, sem escrúpulos e baseada na meritocracia.
Este conceito meritocrático é, aliás, uma das grandes armadilhas na mentalidade do país. Há um quê de moralismo subliminar no acesso aos planos de saúde de qualidade. Ao indivíduo cujo espírito empreendedor, alma cristã , sucesso familiar e, consequentemente, boa renda: o acesso a uma ótima cobertura médica. Ao indíviduo que não leu direito a cartilha do bom-americano, que falhou o percursso do sucesso e cujo bolso não acusa o peso dos dólares: a indigência.
Não deixa de ser irônico que logo o país mais militarizado do planeta, tão acostumado com flagelados em diversas modalidades, não tenha um sistema de saúde gratuito e universal.
Das particularidades evidentes nesta falha desumanizadora do Estado norte-americano, a que mais chama a atenção é o cinismo. Desde a grande ‘invenção’ de Nixon que deu vida às empresas de saúde, discursos e propagandas ‘lavaram’ a cabeça da população. Na época em que o mundo possuia duas forças opostas e que o inimigo atendia pelo nome, foi tarefa fácil exlorar o imaginário de uma população aterrorizada pela ameaça vermelha. Os “riscos” da saúde socialista eram iminentes. Nenhum mal poderia ser maior para o futuro dos Estados Unidos da América do que tornar o sistema de saúde universal a toda sua população.
É impressionante assistir como hoje a exploração dessa propaganda funcionou com perfeito êxito. Já se vão vinte anos sem muro e ainda existe fervorosamente a histeria coletiva de se cunhar de “mal” e “comunista” aqueles – como Hillary e recentemente Obama – que cogitam comprar a briga com o lobby farmacêutico-médico, propondor a universalização de seu sistema de saúde.
Talvez tenha sido de fato um dos objetivos desta exploração do temor nas décadas de 50 em diante a catequização primária do povo, de modo que a discussão se esvaziasse por completo. A partir do momento que a população sai às ruas com cartazes e megafones clamando o extermínio daqueles que querem reformar a saúde, chamando-os de comunistas, o debate se invalida, tamanha incongruência. Um discurso tão raso e equivocado se auto-deslegitima, tornando-o instintivo e inquestionável. McCarthy ainda ecoa pelas ruas da América.
Outro ponto interessante do documentário se dá quando diversos membros do congresso e do senado americano discursam para uma platéia entusiamada sobre os benefícios da assinatura de uma nova legislação de remédios. Com um ácido tom de bom-humor, Michael Moore “etiqueta” cada cabeça ali presente com os preços que teriam custado para o lobby da saúde. É sempre curioso quando vemos que a corrupção não é endêmica de países subdesenvolvidos. Em um país que tudo tem seu preço, um bem tão vital é um excelente negócio.
Esta liberdade plena que o estadunidense goza potencializou o espírito competitivo a um patamar tão elevado que nem mesmo o maior dos deveres do Estado é cumprido. As corporações, camufladas por seu tamanho colossal, são desprovidas de moral, tornando-se assim corpos autônomos , sujeitas à lei, é verdade, mas atuantes apesar de qualquer valor, orientadas somente ao lucro.
De todas as realidades contrastadas por Moore no filme, a de Cuba é a mais impactante, por motivos óbvios. As dificuldades financeiras da ilha não são obstáculos para tamanha excelência no atendimento médico gratuito. Soa quase como galhofa a recepção dada aos “heróis” do 11 de setembro, em solo inimigo.
Ao final, acredito que Michael Moore encontra mais perguntas que respostas. Seria essa catastrófica relação do Estado americano com a saúde o resultado de todo este processo de formação da sociedade individualista acima de tudo? Canadá, França, Inglaterra e Cuba causam vergonha ao país mais rico do mundo, justamente na atribuição mais crucial que o Estado deveria ter: proteger a vida de seus cidadãos. Estariam os estadunidenses sofrendo as agruras de um monstro que eles mesmos criaram?
A resposta que Michael Moore nos propões é relativa: sim e não. Sim, por tudo que foi discutido acima, mas não, pelo simples fato de que existem muitos Michael Moore’s nos EUA, bem como tantos outros que nunca foram perguntados de sua opinião, e que assistem décadas após décadas decisões serem tomadas por algumas dúzias de homens brancos, cristãos, ricos e gananciosos que, como bem disse Moore, amam suas mães, mas não tanto a dos outros.
Fernando Burgés Lopes