5 de dezembro de 2010

Cablegate. Open Government e Internet x Liberdade - Parte III

Agora que temos todas essas informações a respeito do vazamento dos cables e da atual discussão sobre Internet e liberdade nos EUA, podemos discutir uma questão que une estes fatos: o Open Government e até qual ponto ele deve ser levado e/ou desejado.

Para explicar: o Open Government é uma doutrina de governo que prega a total abertura, em todos os níveis, da administração do Estado para escrutínio público e fiscalização. Está 'na moda' nos Estados Unidos devido à grande ênfase da campanha de Obama no tópico transparência, à grande discussão na mídia, e também com o rumo que algumas administrações vem tomando neste sentido - como San Francisco e Nova York.

Altamente aliada à discussão do Gov 2.0, a questão do Open Government envolve necessariamente a Internet, que, por sua velocidade e alcance, se mostra como o único meio de um controle amplo, real e atualizado por parte de quem tiver interesse.

Entretanto, foi exatamente na Internet que, com o caso cablegate na WikiLeaks ao longo da última semana, foi deflagrada a distância que estamos disto acontecer - mostrando que pode não passar de um simples idealismo -, e quais os prós e contras envolvidos neste projeto.

De um modo geral, a discussão sobre o vazamento se dividiu entre quem a criticou ferozmente, baseando-se na razão de Estado e na segurança nacional para caracterizar a divulgação como afronta e risco aos interesses norte-americanos, e quem entende que não divulgar, mesmo já tendo obtido todos os dados, seria uma falta enorme com o compromisso jornalístico e uma omissão com os ideais de maior abertura do governo, etc.

Da parte dos críticos, a Casa Branca, em sua carta aberta, defende que a publicação de documentos secretos gera os seguintes riscos:

* Place at risk the lives of countless innocent individuals -- from journalists to human rights activists and bloggers to soldiers to individuals providing information to further peace and security;

* Place at risk on-going military operations, including operations to stop terrorists, traffickers in human beings and illicit arms, violent criminal enterprises and other actors that threaten global security; and,

* Place at risk on-going cooperation between countries - partners, allies and common stakeholders -- to confront common challenges from terrorism to pandemic diseases to nuclear proliferation that threaten global stability.

Parece ser a mesma posição das Forças Armadas, cuja visão pode ser expressa pelo "Joint Chiefs of Staff, Almirante Mullen" no vídeo abaixo:





Do outro lado, estão atores como ONGs pró-transparência governamental, defensores do open government e, principalmente, os veículos de mídia que fizeram a veiculação - WikiLeaks, Der Spiegel, The Guardian, The New York Times, Le Monde, El País, etc.

De um modo geral, pode-se dizer que o embate apresentado é o mesmo da discussão do Open Government: até onde a população deve saber? É mais eficiente para a democracia que a grande maioria não sabe o que se passa? Devemos preterir a democracia ou a eficiência?

Enfim, são diversas questões, seguidas de perto por analistas como Alexander Howard no Huffington Post tratadas de modo mais complexo em posts como este que serão altamente presentes nos próximos passos dos governos, das mídias, da Internet e da própria democracia, e que devemos estar atentos para separar quais os reais ganhos nesta evolução.

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